Advent Calendar : fashion on screen

Advent Calendar : fashion on screen

Estive muito tempo desaparecida, mas para compensar fiz um calendário do advento e podes abrir todas as janelas ao mesmo tempo! “Advent calendar: fashion on screen” é um compêndio de séries, filmes e documentários sobre Moda ou que têm a Moda como pano de fundo. Escolhas pessoais, tendo como mote “sharing is caring” — gostei tanto de estas 24 obras que quero partilhá-las contigo. 

Cada excerto de texto sobre cada uma tem um prisma diferente, pensamentos de diferentes extensões. Sermos verdadeiros, sem edições e oferecermos inspiração uns aos outros devia ser algo obrigatório em todos os guias de presentes.

Este não é um artigo para ler de fio a pavio, é um artigo para voltar, sublinhar, riscar, fazer check marks e se não fosse o facto de ser digital até amarrotar um bocadinho de tanto manusear.

Espero que gostes deste presente de Natal:

1 -The New Look (2024)

The New Look da Dior foi uma nova abordagem, não só silhueta, mas ao sistema vigente e à vida. Em The New Look apresentam uma visão humana das grandes figuras da história da Moda do século XX. Não é sobre Dior, também sobre Chanel. Não as marcas, as pessoas, as motivações, as emoções e a família. A humanidade que está por detrás do mito.

2- Velvet (2013 - 2016)

Velvet não é uma biopic, é uma ficção com a Moda no centro da ação, com nuances fortes de romance, amizade e família. Entrar nas Gallerías Velvet em Madrid torna-se o teu lugar seguro e feliz. A doçura dos cenários e da atmosfera, o esplendor do trabalho dos actores e os figurinos magníficos de Helena Sanchéz Mira transportam-te. Vais querer fazer parte das “Chicas Velvet”, receber convite para o casamento da Ana e Alberto, ouvir os conselhos de Isabel, emocionar o D. Emílio ou despertar o carinho da D.Blanca.

3 -Made in Italy (2019)

Sabemos enumerar as fashion four de cor e salteado, mas saberemos como tudo começou? “Made in Italy” mostra-nos como Milão se tornou numa das mais icónicas capitais da Moda na década de’70. E ainda que tenhamos uma revista de Moda, uma editora chefe e uma assistente. A “Appeal”, Laura e Irene, a estudante de história de Arte que se transforma numa grande profissional apaixonada por Moda, não, não dão qualquer sensação de déjà  vu. Mostram-nos uma relação profissional e humana a 360º, sem esquecer os clímaxes proporcionados por Missoni, Giorgio Armani ou Albini.

4 - Coco Chanel (2008)

Quando se trata de filmes e séries biográficas, por norma, o foco está na ascensão do protagonista. Neste telefilme/ mini-série o foco incide numa Coco Chanel   71 anos que decide reabrir a sua Maison. A emblemática e magnânima Shirley MacLaine, dá vida aos momentos vividos a 5 de fevereiro de 1954, quando por entre realidade e ficção, Mademoiselle Chanel prepara e apresenta a sua primeira colecção no pós-guerra. Pouco depois aprimora o look da sua sobrinha neta para uma ocasião especial e recorda os momentos-chave da sua vida na companhia da sua prima Adrianne.

5 - Cristóbal Balenciaga (2024)

A mestria das séries espanholas chega às biopics de Moda. A beleza dos cenários, figurinos e enquadramentos contrastam com a personalidade do próprio Cristóbal — um homem fechado, e ainda que de grande génio criativo, o carácter é retorcido e com maldade. Ainda assim, é um must see, da estória de um rapaz do País Basco que conquista a Alta-Costura parisiense. Sem dúvida, uma das obras-primas da ascendente ficção espanhola.

6 - Becoming Karl Lagerfeld (2024)

Não é obrigatório, uma biopic ter sempre o ponto de vista primeiro do protagonista. Ficamos a conhecer como Karl Otto se tornou Karl Lagerfeld, o kaiser da Moda, conhecendo primeiro o amor da sua vida - Jacques de Bascher. Para além de vermos uma interpretação daquilo que fora o seu percurso não como designer, mas como um criador de marcas, conhecemos a sua personalidade rígida e com uma expressão de sentimentos que se vai libertando.

7 - Halston (2021)

Excesso, testar limites, criar ou recriar a simplicidade com maior sofisticação - estas são algumas das características da ascensão do primeiro designer “‘pop’ star” da indústria da Moda - Halston. A Netflix cria um deleite aos sentidos para nos contar uma versão da biografia do ícone americano. Enquanto as emoções surgem a quem vê por romances e dramas ou com momentos que podem ser descritos como amizade “até que a morte nos separe”.

8 - Diane von Fürstenberg:

Woman in Charge (2024)

Quem somos quando não nos permitirmos ter medo? Quem somos quando decidimos ser mulheres no comando consciente das nossas vidas? O que criamos quando usamos a Moda como uma ferramenta de feminismo? A vida de DVF na primeira pessoa e no ecrã responde a tudo isto. E mantras como “love is life” e “the most important relationship you have in life is the one you have with yourself” são fortalecidos.

9 - Jane by Design (2012)

Para o meu eu pré-adolescente, a Jane Quimby era o mais próximo de um alter-ego na TV. A Moda era o seu safe space com uma mentora espetacular E sendo trapalhona, ansiosa, cómica e dividir-se entre a escola e a Moda - “Oh Meu Deus!” - era o meu “higher self”! Não vendo a série há mais de dez anos, acho que talvez hoje me parecesse kitsch, mas o Natal é kitsch e é conto de fadas, portanto esta série pertence a este calendário do advento.

10 -The Next in Fashion (2020 -2023)

Sempre gostei de fashion realities, confesso. Quando ainda estuda no Ensino Básico, adorava ir a casa à hora de almoço para ver uns episódios do Project Runway, que davam na TV por cabo. Mas quando estreou a primeira temporada de Next in Fashion, era algo diferente, inovador e moderno. Alexa Chung fazia-o, de alguma forma, menos mainstream. Não era o típico concurso televisivo… Era entusiasmaste e, até, tema de conversa com os meus colegas de faculdade. A segunda temporada é engraçada e tiram-se algumas lições, mas é algo para o público em geral. Contudo, recomendo que carregues no play.

11 -The September issue (2009)

Como se faz a Vogue? Quais os detalhes e as implicações da edição do mês mais importante da Moda, Setembro? Como é trabalhar com Anna Wintour? Como funciona o processo de criativo de Grace Coddinghton e das demais editoras? Quantas reuniões são necessárias até a edição estar nas bancas? Respostas concisas não temos, as pistas estão no documentário e não é bem “O Diabo veste Prada” da vida real.

12 - The First Monday in May (2016)

O vestido de Rihanna da de autoria de Guo Pei foi um dos mais comentados da História da World Wide Web. Também um dos mais descontextualizados e usado em memes vezes sem conta. O Met Gala tem décadas de existência e conta com anos de exposição mediática, o que não é sinónimo de conhecimento dos seus porquês. The First Monday in May leva-nos aos bastidores da preparação da exposição “China: Through the Looking Glass” a exposição anual de 2015 do Costume Institute (na verdade, Anna Wintour Costume Center desde 2014) do MET - Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque. Somos transportados a vislumbres da organização da inauguração da referida exposição que é, fundo, isso que é o Met Gala.

13 - Diana Vreeland: The eye has to travel (2011)

Diana Vreeland não pode ser rotulada com um cargo na indústria da Moda. Editora-chefe da Harper’s Bazaar e, mais tarde, da Vogue, curadora e consultora do Costume Institute do Met, era acima de tudo uma matriarca. Por entre o vermelho escarlate, vemos a Cultura, a Arte e a Moda pelos seus olhos e com a sua voz. Uma narrativa marcada pela rebeldia da mulher que desafiou as convenções do que se esperaria de uma mulher de “boas famílias” nascida de início do século XX… A mesma mulher que aos 68 anos, na década de’70, quando cessa funções na Vogue, não deixa que sejam a dizer-lhe quando parar, abraça novos desafios.

14 - The Future of Fashion  (2016)

A Moda é sempre retratada com adrenalina e com uma dimensão intangível, a então it girl Alexa Chung é a apresentadora desta mini doc series do YouTube da British Vogue que tem o mérito de mudar esta narrativa. Mostrando como é a Moda nos dias quotidianos, por entre testemunhos in loco e fly on the wall observation. Abordando conselhos práticos em diversas áreas da Moda: design, direcção criativa, gestão, jornalismo, trend forescating, criação de plataformas digitais e blogs, RP…

15 - Notebook on Cities and Clothes  (1989)

Vi este documentário na aula de Técnicas de Estimulação do Pensamento Produtivo há anos e, lembro-me que fiquei deslumbrada. Deslumbrada, não só pela estética e visão de Yohji Yamamoto, mas pela calma, calma com que Yamamoto trabalha e a calma inerente à delicadeza de Wim Wenders no seu estudo da relação do seu trabalho de cineasta e o trabalho de design aplicado à Moda e ao corpo de Yohji-san.

16 - Vogue: The 90s (2024)

Será que estamos consciente de como a década de ’90 e os seus acontecimentos se repercutiram no Sistema de Moda actual? Com a Vogue, algo quase incontornável em muitos documentários de Moda, como ponto central que irradia para diversas estórias que juntas contam a História mais recente da Moda. 

Não consigo deixar de referir duas coisas que transcendem este exemplo, mas que aqui se aplicam: a Vogue será sempre incontornável, porque a Condé Nast é eximia a capitalizar a Moda como entretimento apoiando a produção de diversos documentos audiovisuais; o mediatismo não justifica tudo, para mim, a presença de Kim Kardashian não faz qualquer sentido.

17 - The supermodels (2024)

“Ser super modelo não é ser super-humano”. Esta expressão Linda Evagelista foi a que mais me emocionou de toda a série. Linda, Naomi (Campbell), Cindy (Crawford) e Christy (Turlington) mudaram o que é e o que significa ser modelo na indústria da Moda. Mas o que estava por trás da beleza? Tudo o que acontece de bom e de mau aos seres humanos. Mas o para lá da verdade por trás do mito, está o estudo do fenómeno que personificam, com vários testemunhos de fashion insiders. Sendo assinalável a presença de Suzy Menkes, uma presença inédita e enriquecedora face aos aos outros documentários.

 18 - Prêt -à-Porter (1994)

A Moda sabe-se divertir-se e rir-se das suas particularidades. E a verdade é que o sentido de humor, a Moda, os anos 90 e belíssimos actores são os ingredientes essenciais para um filme para ver e rever centenas de vezes. A Rossy de Palma, Linda Hunt, Lauren de Bacall, Sophia Loren, Cher, Julia Roberts e Marcello Mastroianni juntam-se Jean Paul Gaultier, Sonia Rykiel, Naomi Campbell, Thierry Mugler, Issey Miyake, Linda Evangelista e a lista continuaria… Se, não tivesse de lhe contar a ocasião - a Semana de Moda de Paris e a morte do Presidente da Chambre Syndicale… Tens de ver!

19 - Bill Cunningham New York (2010)

Enquanto a maioria dos fotógrafos capta os momentos de um desfile com tripés no fim da passarela tendo um ângulo frontal dos looks, Bill Cunningham não o fazia. A essência do desfile e da criatividade estava no movimento com quem anda na rua, daí que fotografasse sentado na primeira fila. Mas o auge do seu trabalho estava na rua, em fotografar o estilo dos cidadãos de Nova Iorque. Pioneiro da street style, o homem de sorriso doce, de casaco de trabalho azul e sempre acompanhado de máquina fotográfica e da sua bicicleta teve a sua rotina retratada no auge dos seus 80 anos. Uma rotina simples, de carinho e amor pelo seu trabalho foram captados neste documentário.

20 - High and Low: John Galliano (2024)

Este não é documentário sobre Moda, é um documentário sobre humanidade e sobre a nossa sociedade. Temos licença para errar sempre e quando tenhamos a coragem para aprendermos com tais erros e capacidade de reconhecer aquilo que é  negativo em nós. E como essa informação querer mudar. A vida de John Galliano teve altos e baixos, mas a sua mudança não dependeu só do próprio, mas da capacidade dos outros de dar segundas oportunidades. Que melhor altura do ano que esta, para refletirmos sobre nós mesmos e sobre os nossos valores? Valores que não sirvam só para criticar, mas para percebermos que sermos humanos é ter momentos bons e maus. Afinal, só teremos segundas oportunidades se as facilitarmos aos outros.

21 - Karl Lagerfeld sketching his life (2011)

É, praticamente, consensual que Karl Lagerfeld foi o kaiser da Moda. Mas Karl não era um couturier, Lagerfeld era mais suis géneris que isso - era um sketcher. Entendia o desenho e o esboço como uma ferramenta de comunicação, de expressão e de pensamento. Não fazendo do desenho algo sagrado, desenhava como quem escreve algo para não se esquecer ou até como quem respira. Daí que o registo vídeo deste ícone a desenhar a sua vida seja pura arte.

22 - The Gospel According to André (2017)

Houve quem o apelidasse de freira…André Leon Talley só estava demasiado ocupado a ser quem era e a transformar-se numa das maiores personalidades da História da Moda contemporânea para namoros e romance. O seu bom coração, a devoção à Moda; o expressar-se pela indumentária; a adoração pela sua avó, o gosto pela comida - talvez o seu único vício; o seu amor incondicional pela sua mentora - Diana Vreland, a sua frontalidade e a sua inteligência transformam esta versão da sua vida no ecrã um, verdadeiro, evangelho.

23 - ModaLisboa 50 (2018)

As semanas de Moda independentes começam aqui, com a ModaLisboa e com a Lisboa Fashion Week. Com o sonho e a persistência de quem não duvidava do valor imenso da Moda independente em Portugal. Um documentário versátil que, para lá de mostrar como se prepara a edição 50 da semana de Moda de Lisboa, demonstra e transmite fielmente a emoção e amor que envolve esta fashion family. Uma celebração com saudades do futuro com flashbacks de arquivo do início de tudo. Confesso que só à segunda vez é que vi o documentário na íntegra, no meio de um dos testemunhos em primeira pessoa as lágrimas emotivas já não deixavam ver. Tanto amor faz o mundo melhor!

24 - Franca: Chaos and Creation (2016)

Perdi a conta às vezes que revi “Franca. Chaos and Creation”, é magistral! Não é um documentário a cem à hora. É a celebração calma e enérgica da vida de Fraca Sozzani, pela lente do amor do seu filho Francesco Carrozinni. E, para lá do foco, no trajecto disruptivo, de transformação da imagem e comunicação de Moda num agente político prático para a consciencialização social. Ou de sermos levados a conhecer a coragem por detrás de expor a violência doméstica nas classes altas, a lutar contra o racismo, ou destapar o verdadeiro impacto da indústria petrolífera no ambiente — tudo isto através da instituição que é graças a Franca a Vogue Itália. Estamos perante, uma mulher maior que a vida, que personifica a conciliação da maternidade com uma carreira esplendorosa e que viveu uma vida repleta diferentes amores e paixões sem a necessidade do arrebato do grande amor romântico. 

Faltam 10 dias para o Natal! Mas até lá ainda nos vemos. Onde? Na tua caixa de e-mail.