Da boca de Balmain à gaiola de Chanel

Da boca de Balmain à gaiola de Chanel
Colagem: Vera Lúcia

Qual a relação dois artigos cujos títulos são, quase, o inverso um do outro? Um é a continuação do outro. Ou “Da gaiola de Chanel à boca de Balmain” é a prequela de “Da boca de Balmain à gaiola de Chanel”.

11. Courrèges 

O interessante no renascimento da marca é como existe a continuidade de algo intangível, que nos faz dizer que aquilo que vemos é Courrèges. Não é preciso ir às tipologias das peças, aos materiais, às inspirações similares, à modelagem, à paleta de cores… Di Felice é Courrèges de ponta a ponta. Sendo que o próprio director criativo esclarece a Phelps que no zeitgeist em que vivemos a criatividade é sempre regresso a algo que já havia sido feito.

12. Chanel

Chanel é Chanel. E com isto não falo só de legado, estilo e coleções — mas também como negócio.  Chanel é Chanel no sentido que não pertence a um conglomerado. E apesar da questão nunca ter sido a sucessão de Viard, mas sim a de Lagerfeld, a dança das cadeiras aqui tem um ritmo muito diferente daquela que existe na Kering ou na LVHM. 

E é, também sobre isto que Tim Blanks reflecte: 

“Por que é que este tema parece mais relevante do nunca? Tens de colocar esta mesma questão quando se trata de Chanel. Enquanto a especulação sobre um novo designer não pára de aumentar, esta [colecção] foi projectada pelo “Estúdio de Criação”, por outras palavras, pelo Estúdio de Design, que cumpriu na perfeição a tarefa de ir ao encontro das expectativas dos fiéis clientes de Chanel espalhados pelo mundo. Até que ponto te questionas quanto tais clientes sequer se preocupam de quem é nome que figura do produto. Até onde lhes diz respeito é tudo Coco.”  

Blanks destaca ainda que Karl Lagerfeld teria gostado do set deste desfile com a actuação Riley Keogh, neta de Elvis Presley, do tema “When Doves Cry” de Prince. Ainda que, a actuação que teve lugar no final do desfile com a cantora suspensa no baloiço dentro da gigante gaiola — inspirada pelo anúncio de Chanel n.º5 de 1991 com Vanessa Paradis e realização de Jean Paul Goude — talvez não fosse do agrado de Coco.

13. Balenciaga & Vetements 

Com ajuda das reviews percebi inteiramente a referência à silhueta cocoon, não sendo pretendido que seja literal. E recapitulando a matéria dada, consigo ver as inspirações da infância de Gvasalia, na casa da avó. Da mesma forma que subscrevo a ideia de que a Vetements já foi mais underground, como afirma Luke Leitch, a lufada de ar fresco dada por Denma à Balenciaga já foi mais forte.

Colagem: Vera Lúcia

14. Louis Vuitton

Há alguns anos disser-se-ia que se trata de uma colecção eclética, e talvez seja mesmo esse o adjectivo. Havendo muito mais foco nas malas e baús de viagem, o que é compreensível, uma vez estes serão sempre os objectivos de desejo por excelência da Louis Vuitton.

15. Ralph Lauren

A Ralph Lauren tem um target muito definido e uma estratégia e identidade mais que comprovadas, muito ligada à identidade de uma parte dos EUA, ou daquela que é a ideia preconcebida e concebida pelas séries televisivas no subconsciente colectivo dos europeus relativamente ao estilo de vida de muitos norte-americanos — um pouco ao estilo de The Perfect Couple. 

Tal como descrevem as demais críticas, o segredo de Ralph Lauren é a experiência de apresentação in loco, idealizada para deslumbrar, o entorno perfeito para o styling de diferentes clássicos, combinados entre si darem lugar a um verdadeiro show.

16. Prada 

Muicca Prada traz-nos o space age reinventado, não vamos ao espaço, mas dispomos de inteligência noutros fora de nós. Prada, segundo a própria matriarca, formula a proposição humana. A criatividade é característica humana, a criativa italiana por excelência e Simons foram para além dos próprios limites, a designer e cientista política Drª Prada admitiu que este desfile lhe casou mais nervosismo em antecipação do que é habitual. 

17. Miu Miu 

A ideia de que a Miu Miu é a irmã mais nova de Prada está a ser reescrita. A Miu Miu tem diferentes camadas de liberdade e de rebeldia, mas não tem idade. E estendesse a diversos formatos como da escrita e da u+imprensa que no físico toca o digital, por meio de um jornal e instalação de Gosha Macuga. O jornal como peça, parte da instalação de “Salt Looks Like Sugar” é híbrido, uma vez que “The Truthless Times” contavam ainda com QR codes estrategicamente posicionados no objecto físico.

Colagem: Vera Lúcia

18. Rabanne

Se houve uma altura em que a denominação da estação definia um tipo de guarda-roupa e um estilo de vida inerentes à sociabilização convidada por uma determinada atmosfera climática previsível. A Rabanne sabe disso, não se vive uma estação, vivem-se dias, versáteis com vários momentos, em que o corpo vestido se veste, sem pudores, para o espelha. E não se guardam os dourados para a ocasião que, aa sociedade em geral, define como especial.

Num detalhe tão, aparentemente, simples como os anéis de unhas, a marca dá as boas-vindas a mulheres de vários credos.

Com Rabanne podemos sair à rua com algum frio, tiramos uma camada, quando nos assolar o calor ao regressar ao escritório não estaremos overdressed e ainda estaremos prontas para um evento ao cair da noite. 

E jamais, a chuva nos estragará a mala ou os sapatos! 

Em suma, Dossena celebra a essência da marca pela experimentação, querendo, segundo o próprio, levar tais abordagens a novos limites.

19. Issey Miyake 

Sinto que falar condignamente de Issey Miyake ainda não está ao meu alcance. Não consigo expressar o prazer estético que como os materiais, com destaque para o encontro de washi (papel de cânhamo) e rayon de seda, são trabalhados me proporciona e como as proporções, para mim, novas ao surgir me maravilham. 

A desconstrução da funcionalidade da própria peça vestida, questionando a relação peça corpo. 

Os próprios moldes são o centro da criação.

20. Conteúdo Extra — os tais estudos da Vestoj 

Se leste o artigo “Em Moda as carreiras não se fazem no micro-ondas”, talvez te recordes que a Vestoj fora mencionada aqui. Por ter sido recomendada, no dia aberto digital da Central Saint Martins sobre o Mestrado em Comunicação de Moda, pela professora Drª Elizabeth Kutesko, tutor do Mestrado Comunicação: Histórias e Teorias: 

“Tenho de descobrir como tornar a escrita académica de Moda em algo que tenha em mente um público-alvo mais vasto, segundo Kutesko, a Vestoj é bom exemplo disto e será por aí que os meus próximos trabalhos de casa irão começar.”

Foram várias as lições que retirei da Vestoj, relativamente a como a escrita académica pode ser de mais acessível em termos de estilo. 

Mas, em suma, das aprendizagens que extraí, o mais pertinente é separar duas coisas — o conteúdo do estilo de escrita. O conteúdo pode e deve resultado de um processo tão rigoroso e organizado quanto aquele se encontra em meio académico. Assim sendo, o estilo de escrita pode ser pessoal, criativa e com laivos de descontração e até proximidade com quem, sem isto desvirtuar aquilo que se escreve.

Uma vez que haverá Moda enquanto existirmos como seres humanos e como sociedade, aqui não há lugar a conclusões.