Isto não é um artigo!
Durante estas primeiras semanas do novo ano quero levar-vos numa viagem, viagem essa que já começou…Imaginem um comboio que vai parando em várias estações… Juro que não foi propositado, mas lembrei-me que um desfile da Louis Vuitton, na era Marc Jacobs (de quem falámos a semana passada), teve um comboio como cenário. Como sou uma nerd na Moda, fui confirmar a informação e trata-se do desfile de apresentação da coleção Outono/ Inverno 2012/2013.
Sendo que estamos a usar a metáfora da viagem da Vogue, que pode ser considerada como uma revista de Moda mainstream, chegamos à System, uma publicação bianual de nicho focada no próprio Sistema de Moda. Segundo os próprios editores e co-fundadores pretendiam que este fosse um espelho do que é Moda, com um ponto de vista, mas sem agenda; informativa mas que fosse propulsor de conversas; documento das várias facetas da Moda; dando preferência a artigos longos e de relevo.
A edição em que nos vamos focar data da Primavera/Verão , entretanto, segundo informações de The Business of Fashion, os co- fundadores Elizabeth von Guttman, Thomas Lenthal and Jonathan Wingfiel saem da publicação em Outubro de 2024 com intuito de vir a criar um novo projecto editorial em 2025. Segundo a mesma fonte, os fundadores terão saído por desentendimentos com o então dono da publicação Mike Obenson. Em Dezembro passado readquiriram a publicação que terá uma nova edição física já este mês, durante a Semana de Alta Costura de Paris, que acontece de 27 a 30 de Janeiro. Ou seja, dentro de poucos dias, que este não- artigo possa servir de homenagem à publicação antes da entrada numa nova era.
Quase um ano depois da apresentação da minha dissertação de mestrado, revisito um dos seus capítulos e o objecto que deu origem ao mesmo. Com um novo olhar, pelas lentes da máquina do tempo.
Na Parte 1 a interactividade foi mais auto-reflexiva, na segunda parte desenhei a interactividade para ti… O que não quer dizer que este não - artigo não seja todo completamente teu, agora que o lês.
Parte 1 - Estudar o que eu própria escrevi
Inicialmente, quando pensei neste artigo, pensei- o como um artigo propriamente e, quase como uma republicação de um capítulo da minha dissertação. Entretanto, decidi ir mais longe. Como? Estudando o que eu própria escrevi como se de um manual escolar se tratasse, quase como se desfizesse uma peça de crochet para com o fio criar uma nova peça. Ainda assim, acabei por me apegar a um dos trechos já escritos e que considero relevante de forma transversal e intemporal. Tais conclusões foram obtidas pelo testemunho de Susanna Lau no contexto da já mencionada edição da System. Aqui está o dito trecho que não é uma citação, mas sim uma adaptação.
Susana Lau, mais conhecida por Susie Bubble tem uma visão optimista, não perdendo o realismo e a frontalidade. Apesar de afirmar as infraestruturas de retalho são por norma complicadas. Característica à qual se somam sérias dificuldades que as mesmas atravessam aos dias de hoje. Facto de que contribui para amplificar aquele que é, no seu entender, o calcanhar de Aquiles dos designers emergentes – alcançar a longevidade.
Em termos de visibilidade, nunca houve uma melhor oportunidade para se ser designer independente. Este é o tempo em que vivemos um bom momento para marcar tal posição de independência como designer de Moda. No entanto, não deixa de haver uma componente de dependência. Dependência de redes de apoio, suporte e de contactos. O mais difícil, na perspectiva de Susie Bubble, não é ser reconhecido, louvado e elogiado pelo talento. O difícil é conseguir a continuidade desse grupo de pessoas, que são uma mais valia - como claque, como apoio.
Parte 2 - Um novo olhar sobre a System
Esta segunda parte não é tanto um artigo é mais uma amálgama, um moodboard ou scrapbook de inspiração por escrito. Scrapbook esse que tem origem no objecto de estudo do artigo que escrevi para minha dissertação e que por sua vez serviu de base à “Parte 1 - Estudar o que eu própria escrevi”
Lado A
Nesta edição da revista System foi feito um questionário 122 fashion insiders e como enumerar cada um deles seria mais aborrecido que ler um livro de ponto de uma escola secundária, pensei em algo mais interactivo, reduzir a lista pela metade e criar algo similar a um bingo (mas sem os cartões e as esquadrias em quadrícula). Então quais são as regras deste jogo? Temos 3 listas, a primeira será de insiders que todos conheceremos, a segunda só quem está mesmo all in é que fará check em todos, a terceira pretende surpreender-nos a todos e despertar a curiosidade de googlar nomes e descobrir pedaços de inspiração. Num mundo e indústria tão velozes não faz sentido completar a lista com cargos ou títulos.
Lista 1
- Jonathan Anderson
- Carlyne Cerf de Dudzeele
- Maria Grazia Chiuri
- Denma
- Edward Enminful
- Carljin Jacobs
- Simon Porte Jacquemus
- Kim Jones
- Stephen Jones
- Andreas Kronthaler
- Isabel Marant
- Glenn Martens
- Stella McCartney
- Suzy Menkes
- Pierpaolo Piccioli
- Rick Owens
- Daniel Roseberry
- Marine Serre
- Dries Van Noten
- Yohji Yamamoto
Lista 2
- Imran Amed
- Agnés b.
- Nicolas Di Felice
- Beka Gvishiani
- Amelia Gray
- Tom Guiness
- Amanda Harlech
- Irene Kim
- Joe McKenna
- Alastair McKimn
- Tyler Mitchell
- Hans Ulrich Obrist
- Lucien Pagès
- Pierre A. M’Pelé
- Peter Philips
- Vanessa Reid
- Renzo Russo
- Olivia Singer
- Tyrone Dylan Susman
- Juergen Teller
Lista 3
- Haider Ackermann
- Osman Ahmed
- Sarah Andelman
- Delphine Arnault
- Rami Atallah
- Franziska Bachofen - Echt
- Olivier Bialobos
- Derek Blasberg
- Saskia de Brauw
- Ashley Brokaw
- Casey Cadwallader
- Sébastien Meyer
- Eva Gödel
- Katie Grand
- Pierre Hardy
- Tiffany Hsu
- Arby Li
- Pascal Morand
- Dan Thawley
- Brandon Wen
Lado B
Uma das liberdades que me permito com esta newsletter é usar e abusar das citações, quando as palavras são demasiado irresistíveis para não as partilhar.
Assim neste exercício a lembrar o Dadaísmo, fiz uma curadoria de 10 manchetes da revista em foco e fui em busca dos seus autores, mas mantive-os separados. Porquê? Quero que te inspires nas palavras em si, quero que as leias como são e depois então veres quem as assina. Contrariando a ideia de interpretarmos uma peça e o seu logo, e não somente a peça de roupa como peça de Moda e de design.
Citações
- “A mudança fundamental aconteceu no que toca ao Branding. Moda, realmente, tanto sobre o Design, e ainda assim, penso que é disso que todos estamos sedentos.” (1)
- “Recentemente, em contacto com uma Maison de Alta Costura e, contavam-me que já não podem aceitar novos clientes, uma vez que não tem capacidade de estar a par e passo com as encomendas.” (2)
- “Não desejaria estes grandes cargos de designer a ninguém. A quantidade de trabalho, a pressão… Olha para o Olivier na Balmain; nunca tem um único Domingo de folga.” (3)
- “Não há outra indústria na qual o fosso entre a percepção de glamour e a realidade do cargo seja maior.” (4)
- “A pandemia lembrou-nos que a vida é curta; ninguém quer ser a pessoa mais rica do cemitério. Tem havido uma corrida para aproveitar as melhores coisas da vida.” (5)
- “Penso que o antigo modelo de ter um director criativo que é tida com uma criatura todo-poderosa há muito que sucumbiu à complexidade do mercado.” (6)
- “Moda não gira em torno da Paris Fashion Week. Podes ter uma marca muito bem sucedida e não fazer nada disso. Existe apenas virtualmente.” (7)
- “Hesitaria em chamar a mim própria crítica de Moda, porque ainda que escreva para publicações, estou muito mais interessada na ideia de ser cheerleader da Moda.” (8)
- “Como nós próprios criámos algo, e não temos um grupo empresarial por trás, conseguimos sobreviver por nossa conta. Sem os seus títulos, quem são eles?” (9)
- “Ser director criativo é muito mais do que apenas desenhar roupa. Mas quando a roupa se torna a menor das tuas preocupações, é quando existe um problema.” (10)
Autores
- Cathy Horyn
- Loïc Progent
- Loïc Progent
- Hanya Yanagihara
- Luca Solca
- Luca Solca
- Susanna Lau
- Susanna Lau
- Bryan Yambao
- Alexander Fury
O que espero que leves daqui, neste momento convulso do mundo, seja leve, inspirador e divertido, elementos que extraídos da Moda e o The Fashion Standup levem a tua a mente a voar, convergindo e divergindo, até a teu cérebro grita “Bingo”! Porque na verdade isto é um jogo! Isto não é um artigo!
(1) - Tradução livre do original: “The fundamental shift is down to branding. Fashion’s no longer really about design as much,and yet I think that is what we’re all hungering for.”
(2) -Tradução livre do original: “I was talking with a haute-couture house recently,and they were saying they can’t accept new clients because they aren’t able to keep up with orders.”
(3) -Tradução livre do original: “I wouldn’t wish those big designer jobs on anyone.The amount of work, the pressure... Look at Olivierat Balmain; he never has a single Sunday off!”
(4) - Tradução livre do original: “There’s no other industry where the gap between the perceived glamour of the job and the reality of the job is greater.”
(5) - Tradução livre do original: “There’s no other industry where the gap between the perceived glamour of the job and the reality of the job is greater.”
(6) - Tradução livre do original: “I think the old model of having the creative director as an all-powerful creature has long succumbed to the complexity of the market environment.”
(7) - Tradução livre do original: “Fashion doesn’t have to revolve around Paris Fashion Week. You can have a really successful brand and not do any of that. Just exist virtually.”
(8) - Tradução livre do original: “I would hesitate to call myself a fashion critic, because even though I do write for publications,I am more into the idea of fashion cheerleading.”
(9) - Tradução livre do original:“Because we created something ourselves, and we don’t have a corporation behind us, we can survive on our own. Without their titles, who are they?”
(10) - Tradução livre do original: “Being a creative director is way more than just designing clothes. But when the clothes become the least of your worries, that’s when it’s a problem.”