Ketchup files: o ingrediente secreto do Street Style

Se já andámos ao largo do Mediterrâneo, desta vez vamos fazer uma viagem transatlântica - vamos até Nova Iorque. E não sei se é um cliché europeu o vício das série ou o fraquinho pelas comédias românticas… quando penso em Nova Iorque, penso automática na estética e na vibe the “Only Murders in the Building” misturado com o “Breakfast at Tiffany’s” e a queda da bola em Times Square na passagem de ano.
E agora preciso de introduzir um hamburger em todo este imaginário para fazer uma transição suave. Então imaginemos um universo despótico, onde a Holly Golightly se junta a Mabel Mora, Oliver Putnam, a Charles- Hadden Savage e Loreta Durkin para comerem cheeseburgers com batatas fritas… O que falta aqui?
Ketchup! E chegámos ao nosso protagonista, ou melhor, protagonistas - Ketchup Files. E não tem nada a ver com comida ou com o universo despótico da minha introdução maluca e tem tudo a ver com Moda e com cultura pop.
Antes de vos relevar tudo, ou quase tudo, tenho de dizer uma coisa… Se este artigo precisasse de hashtags teria os seguintes: #nopub #notanadd #collab.

Dito isto, o que é afinal o Ketchup Files? Trata-se, segundo o próprio, de uma retrospectiva de uma subcultura documentada ao longo de mais de uma década. Um banco de imagens única e exclusivamente dedicado ao Street Style.
E, sabendo que quem está do outro lado do ecrã são, maioritariamente criativos, sei que esta informação já por si é incrível. Um banco de imagens com uma estética marca e não genérica, imagens dotadas de personalidade e não representações falsas de realidades aborrecidas.
Mas, uma vez que, à criatividade está sempre aliada a curiosidade, numa tarde de sol de Inverno, sentei-me com a Celina e o Felipe Espinal. Um amor que se traduziu em empreendedorismo criativo envolto numa comunidade efervescente. Em conjunto são os fundadores de Ketchup Files e Cocora Creatives (Media Agency).
Na minha óptica, em Celina encontramos o espirito dinamizador e organizador e em Felipe a exteriorização e a realização da criatividade. Sendo que a personalidade genuína e de partilha de ambos aliada à paixão pelo Street Style lembra-me a canduras do saudoso Bill Cunningham.
Ao reflectir sobre a fonética do nome “ Ketchup Files”, lembra-me a expressão “to catch up” de nos por-mas a par, de os actualizarmos no que aconteceu na vida de alguém ou em determinado contexto ou evento. Algo que este site como ferramenta permite.

Parte de um serviço, quase involuntário, de perpetuação de memórias de Moda, de tendências, do tableau vivant da Moda em si mesma. Num momento em que para lá de que os media impressos atravessam tempos convulsos e objectos como os suplementos de tendências há muito que caíram em desuso. E, ainda que muita se diga e repita que aquilo que é colocado na internet nunca de lá sai, muitas vezes tentar rastrear um linha temporal próxima de uma década torna-se num caminho conturbado repleto de erros “404 - página não encontrada” ou de avisos de conteúdos que já não se encontram disponíveis.
A estória da origem de KF começa pelo corpo de trabalho de Felipe inerente à sua biografia. Tendo nascido e crescido na Colombia, sentia que o cluster de Moda no seu país de origem estivesse suficientemente desenvolvido para que pudesse concretizar o seu sonho de se tornar fotógrafo de Moda.
Viaja para Nova Iorque, onde chega em Setembro de 2015, mesmo a tempo da semana de Moda. O timing era perfeito, o facto de não ter um networking estabelecido não era relevante, afinal a Moda sempre estivera nas ruas. E para a ver passar e para captar essa passagem não são precisos convites ou acreditações. Assim, Felipe começou a fotografar as entradas e saídas de quem assistia aos desfiles ou das manequins prontas ou quase prontas a desfilar. Construindo dessa forma a sua rede de contactos, na qual se incluem outros fotógrafos freelancer que viriam a formar parte de Ketchup.
Fotografando a envolvente da New York Fashion Week é incontornável não documentar a mítica editora chefe da Vogue - Anna Wintour. Sendo o street style uma abordagem não intrusiva ao sujeito fotografado, captar em vídeo ou fotografia uma personalidade ao longo de uma década cria-se uma relação ainda que indirecta com tal personalidade.

Notei-o ao falar com Espinal… Principalmente, quando quase com uma certa sagacidade acidental me mostrou o clip que está na origem das imagens de capa deste texto. São imagens como estas que fazem transparecer a humanidade e traços de emotividade, para lá de um mito Wintour.
Não consegui evitar pedir que me explicassem o seu modelo de negócio. Com descontração e genuinidade contaram que pretendiam criar uma alternativa com laivos anárquicos aos bancos de imagens e empresas de média tradicionais. Nesta hub de street style os seus fundadores não retêm 60% dos lucros das obras dos profissionais com quem trabalham, como acontece com a Getty Images. Na filosofia desta união criativa, a maior fatia do bolo deve ser de quem tirou a fotografia - os 60%.

Celina e Felipe são pro artista - “o que queremos dizer com isto é que os vemos como artistas. Em todos os sentidos da palavra. Sites normais de bancos de imagem como o Getty, desvalorizam o verdadeiro estilo e a imagem de um artista. Aqui esperamos elevá-lo e celebrar essas características. Há um milhão de maneiras diferentes de tirar uma foto, trabalhamos com quem passou a carreira a tentar dominar como o fazer de forma idiossincrática.”
Neste sentido, procuram também dar aos clientes da sua plataforma uma boa relação qualidade preço, através de packs e subscrições, ou havendo até a possibilidade de se fazer o download das imagens com logótipo ou marca de água que está muitas vezes em harmonia com a própria fotografia não a “corroendo”. ´
Por entre os clientes deste projecto estão agências de RP, bloggers, influencers, stylists e estudantes de Moda em busca de inspiração para os seus mood boards. Para os quais os co-fundadores da Cocora creatives criam todo um eco-sistema.
Como? Aliando à fotografia as palavras e apelando ainda mais à diversidade e à multi - culturalidade com os profissionais com os quais colaboram, nomeada comunidade hispânica, latina e de línguas e idiomas espanhóis. Para tal criaram “La Semana de Moda” onde creators de mix media - escrita e fotografia, que poderiam ser um montra para colaborações profissionais, sendo que com a evolução da mesma funcionará com um mecanismo análogo ao Ketchup Files.
Vindo LSDLM (“La Semana de Moda”) a necessidade existente de uma plataforma de portfólio para a Moda em forma de palavras, já que plataformas como a famosa Béhance estão vocacionadas para projectos de forte componente visual.

Regressando, à analogia do bolo, Celina, nascida em Chicago e criada na Pensilvania, explicou-me que em termos de empreendedorismo criativo em Nova Iorque não é irromper num espaço demasiado saturado. Pois a criatividade nova-iorquina é um bolo no qual cada um tem direito à sua fatia.
Os projectos desenvolvidos por Celina e Felipe demonstram-nos não só que em termos de estrutura podemos dar um twist próprio e necessário ao que está em vigente aliando conceitos e estilos de forma única como fizeram unir street style a um banco de images. Ao mesmo tempo que o que será sempre tendência no Sistema de Moda é começar exatamente onde estás com as competências que tens, iterando com a evolução do tempo e do trabalho desenvolvido.
Para darem continuidade à inspiração visitem e explorem o site ketchupfiles.com. Com a promessa de que todas as novidades que surgiram deste ecossistema de creators para creators será contado aqui no teu The Fashion Standup.
Até breve!
Com amor,
Vera Lúcia