Lisboa e Copenhagen - crónica das Fashion weeks

Lisboa e Copenhagen - crónica das Fashion weeks
Fotograma do video promocional da edição Awake (Março de 2020) da ModaLisboa - Lisboa Fashion Week, que tem como protagonista Alba Baptista.

Ao escrever uma dissertação sobre a semana de Moda de Lisboa, esta primeira semana de newsletter foi uma revistação de alguns desses textos, há sempre necessidade de analisar outros casos de estudos. Como é o caso da Copenhagen Fashion Week, também ela uma semana de Moda independente.

E, em tal contexto, temos sempre de ter de ter referências que apoiem o escrevemos... Ok, tinha de encontrar uma boa ajuda, uma ajuda válida. Para criar uma silhueta de contexto. Decidir de que peças era composto o look de tal silhueta e por fim, comparar com o meu outro look escrito e metafórico o meu "objecto de estudo" (desculpem, todos os académicos mas tenho de soltar amarras...).

Backstage do Showcase SS 25 da marca Caro Editions na Copenhagen Fashion Week (Agosto de 2024).

Que ajuda é que eu escolhi? É essa a pergunta que ecoa, espero que sim que esta newsletter ainda é um monólogo, portanto vamos lá. Aproveit0 este à parte para confessar uma coisa duas na verdade: Standup vem mesmo de humor dos comentários que faço sobre determinadas coisas a uma grande amiga, foi ela que arranjou o nome; segunda - eu sei que os textos académicos são um bocado aborrecidos, mas eu tinha medo de mexer na minha obra-prima. Graças a Deus (inserir outro nome ou denominação conforme crença ou religião) existe a amizade para nos acordar, e eu tenho exército incrível, isso ficará para outra newsletter, talvez.

Vera Lúcia, responde à pergunta! A ajuda foi um livro, calma, eu sei que ando a tentar convencer meio metatarso de que uma publicação digital é algo incrível, mas as bibliotecas digitais incríveis - e foi numa estante virtual que eu encontrei Katrina Sark e o seu livro "Copenhagen Chic - A Locational History of Copenhagen Fashion" (2023).

Para quem investiga e gosta de ler, mas tem um prazo a cumprir, tem o treino dos prazos da escola do Design de Moda (presente), tem de olhar para um livro fazer o skimming super sónico e a perceber se é o tal ou não tal, bibliograficamente, claro está.

Cultura de Moda vs Sistema de Moda

O que fez com o livro de Sark fosse o tal? A distinção que faz entre Cultura de Moda e Sistema de Moda. Clarificado e demonstrado que está o quão fashion geek eu sou, vou explicar a questão.

A cultura de Moda é fluxo contínuo que se estende para lá daquilo que sejam flutuações económicas ou consequências de decisões políticas.

arca Ganni durante Copenhagen Fashion Week. Foto: Hunter Abrams (2023).

A cultura de Moda existirá enquanto existirem seres humanos. Enquanto um sistema — nomeadamente o de Moda, formulado por diversos componentes, componentes esses que poderão ruir - por meio de eventos como pandemias ou guerras, duas realidades que afectam o nosso presente e o nosso passado recente.

Sendo o Sistema ao qual me refiro composto por: eventos, empresas, marcas, indústrias fabris, ateliers, escolas, publicações, imprensa escrita e multi - formato.

A quinta capital de Moda

Silhuetas definidas, percurso da ModaLisboa - Lisboa Fashion Week já explorado, é chegado o momento de perceber o que está por detrás da Copenhagen Fashion Week. Em parte está financiamento e políticas.

Quando, em 2005, aparentava ser um acto disruptivo, a implementação de políticas direccionadas à Moda, por parte do Governo da Dinamarca e, ainda que este tenha sido o primeiro país escandinavo a fazê-lo, acções similares, já haviam sido postas em práticas noutros pontos do globo.O objectivo de tais injecções de capital era a ascensão a quinta capital mundial de Moda, não sendo o conceito de fashion city suficiente. A maioria das candidatas estudadas por Sark (2023) falharam tal ambição, por secarem a sua fonte subsidiária antes da chegada à meta.

Imagem que integra o projecto ´Workstation´ da edição À la Carte (Outubro de 2023) da ModaLisboa - Lisboa Fashion Week. Foto: Indré Brazdeikyté.

Entre esses candidatos estão Montreal, Berlin, Viena e Copenhaga. Como componentes definidores de fashion city, foram estabelecidos os seguintes: designers locais, fornecedores e indústria manufactureira, retalhistas e boutiques, eventos de Moda e festivais, museus de Moda. Assim como, organizações especializadas em Moda que promovam os designers e a indústria da Moda, escolas de Moda, revistas de Moda, profissionais da área (fotógrafos, modelos, stylists, entre outros) e trade shows.

Importa estar ciente de que em Lisboa, foi o componente “evento de Moda”, a alavanca de todos os outros.

Lisboa Fashion Week e Copenhagen Fashion Week

E foi depois do surgimento da ModaLisboa e com os constituintes da organização e com designers que formulam o calendário, que nasce em 1992 aa primeira licenciatura em Design de Moda em Portugal, na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa.

E não nos podemos esquecer de uma questão pertinente - a questão da industria têxtil portuguesa, enquanto os países, que as cidades já referidas, integram não são expressivamente reconhecidos pela sua industria têxtil, Portugal efectivamente é.

Backstage do Desfile SS 25 de Joao Maraschin na Copenhagen Fashion Week (Agosto de 2024). Street Style da Copenhagen Fashion Week FW 22. Foto: Adam Katz Siding (2022).

Também não me posso eu esquecer que estou a redigir a adaptação de um excerto de um texto académico, e na Academia tudo se contextualiza, mas iremos do todo para a parte.

A nossa "parte" é na verdade um "tudo" - contextualizar tudo contextualizar melhor tudo o que englobam Semanas de Moda independentes — afinal foi por ser um bom exemplo comparativo que se escolheu Copenhaga, atendamos o que diz Stark (2023) sobre as semanas de Moda. Ao mesmo que tempo que fica mais explicito o posicionamento da Copenhagen Fashion Week, s como poderemos perceber tais acções, pode ser considerada homóloga directa da ModaLisboa, tendo esta última sido a precursora do caminho que a CFW iria percorrer.

Ora, comprovemos o que consta do capítulo “Fashion Sustainability” do livro supramencionado, na secção dedicada a como a Moda Dinamarquesa entrou na “economia da experiência” (Sark, 2023, p. 79) :

“Ainda que poucas semanas de Moda ameaçassem o pódio de Paris, Milão, Nova Iorque e Londres, na indústria de Moda dinamarquesa, as ambições de colocar a CFW perto do topo da hierarquia, em termos culturais e de actividades económicas, instigaram o conceito do quinto cluster de Moda.Tais ambições acabariam por ser abandonadas, os esforços para propulsar a CFW, desencadeou uma maximização foco local relativamente ao evento e ao posicionamento deste no branding da cidade, à medidas que, novos eventos vão sendo introduzidos com vista a abranger um público mais vasto, no mundo da Moda, normalmente, fechado.”

Graças às palavras da autora que referi pude explicitar semanas de Moda são muito importantes para o Sistema, tanto a nível simbólico quanto prático. o

O simbolismo assenta no estabelecimento e continuidade de hierarquias, tanto no que respeita a estilos e tendências, quanto a marcas e designers. Em termos práticos, as Semanas de Moda são a ponte que interliga os designers à imprensa e aos compradores principalmente no momento de apresentação das suas colecções.

A própria Sark recorre a outras palavras que não as próprias - as palavras de Skorv (2006), que afirma que o crescimento doa relevância formato de Semana de Moda, ocorrido na segunda metade do século XX, desencadeia a que, no início da década de 2000, tais eventos, que acontecem por todo o mundo, se tornem marcos culturais a três níveis distintos: regionais, nacionais e na esfera global. Já a professora dinamarquesa, primeiramente mencionada argumenta que, a par de tal proliferação, se tornou proporcional a competição entre semanas de Moda.

Todas estas vozes e percurso permitiram-me , a ModaLisboa é pioneira. E, que antes de a própria cidade ser um dos maiores pontos turísticos da Europa, a ModaLisboa já promovia a cidade, e trabalhava no sentido de a transformar numa cidade criativa e num cluster de Moda.

Havendo consciência da possível contraposição baseada no facto de que Semana de Moda de Copenhaga tem um mediatismo significativamente maior do que a de Lisboa, exposição mediática essa que se estende às marcas dinamarquesas que no evento participam.

Não obstante, tal como se apresenta na delineação da autora já referi várias veze, , o apogeu da CFW, assenta, maioritariamente, no trabalho da sua CEO — Cecilie Thorsmark, nomeada para o cargo em 2018. Há, portanto, o dever de equacionar, que um trabalho sustentando e que se prolongue no tempo, pode ser mais vantajoso, a longo prazo, do que um apogeu alicerçado a uma mudança de liderança e que despontara num espaço de tempo relativamente curto.

O ensino e o cluster de Moda

No que concerne ao ensino, um dos critérios para a construção de um cluster. Como abordamos para além da ModaLisboa, ao longo do tempo, ao proporcionar momentos educativos a alunos de várias escolas, por meio das fast talks, workshop e masterclasses, também é um catalisador de eventos dentro do ambiente académico, mais precisamente — na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, Faul.

Obviamente, que também não se abordara a visão de Abbondanza no que respeita ao ensino, de forma vã, a ênfase dado ao facto de dar exemplos práticos aos seus alunos, transmitir conhecimentos por meio de conversas, sem PowerPoints, mas por diálogo não é inconsequente.

Imagem que integra o projecto ´Workstation´ da edição Love (Março de 2011) da ModaLisboa - Lisboa Fashion Week. Foto: Vasco Neves. Imagem que integra o projecto ´Workstation´ da edição Core (Março de 2023) da ModaLisboa - Lisboa Fashion Week. Foto: Luís Moreira.

Tudo isto contribui para preparar e formar profissionais de Moda, e não alunos que se limitam a cumprir critérios dos briefings que recebem. Recuperamos tudo isto, para que esteja bem presente, facilitando a ilação de que tais factores, estão efectivamente, com o que “Copenhagen Chic” demonstra serem as necessidades das novas gerações de alunos:

“O que a nova geração de estudantes de Moda e Design precisam é de uma compreensão holística de história, sustentabilidade social e ambiental, literária critica face aos media, conhecimento de enquadramentos teórico com vista a possibilitar que o seu trabalho seja mais informado, realista e consciente. E uma perspectiva global e competências digitais, que transcendam a sala de aula. “

Stark argumenta ainda sobre a grande responsabilidade, inerente ao panorama actual, que residente na acção dos professoras que leccionam na área da Moda, de dar aos jovens estudantes as ferramentas que lhes possibilitem reformular a industria de Moda global com vista às necessárias mudanças do ponto social e, rumo à sustentabilidade. E eu subscrevo!