ModaLisboa Capital - Dia 1 e 2

ModaLisboa Capital - Dia 1 e 2
Colagem feita pela autora. Imagens: Fotos de backstage das colecções de Dri Martins, Francisca Nabinho, Inês Barreto e Mestre Studio,respectivamente (FW 25/26). Créditos das imagens: Luís Miguel Fonseca | modalisboa.pt

Lê o prólogo introdutório à ModaLisboa Capital com assinatura de The Fashion Standup, aqui

Já voltaste? Boa, então comecemos.

Dia 1

Colagem e fotos autora. Imagens: Fast Talks.

Fast Talks (Talk 1: “Cultural Capital - An industry under the influence” + Talk 2: “Social Capital - Design as a catalyst for change” + Junk - Screening de dois episódios da série documental)

A Moda e a Cultura são dois universos extremamente vastos e estranho seria se as Fast Talks não espelhassem tal diversidade. A escrita de notas frenética, encerra em si tanta essência que é difícil colocá-las no sentido de frases. Da mesma forma, a exibição de dois episódios da série documental Junk abre tantas portas no pensamento, de tal forma complexas de gerir que encontrar a sua tangibilidade para palavras é uma árdua tarefa. Portanto aqui ficam as principais lições que retirei:

    • A Moda é tão imensa, que dificilmente cabe no sistema de ensino. Estudar Styling ou Design de Moda não formula a job description, uma vez que as possibilidades se multiplicam a cada dia;
    • Na Moda e no Design não há lugar a preguiça. O Design é uma viagem e por isso há que viajar e há que explorar;
    • Estamos a passar da Era da Informação para a Era da Curadoria, temos que contrastar as nossas perspectivas com a de outros para podermos encontrar a nossa autenticidade individual e, por conseguinte, a originalidade e a criatividade;
    • Estamos demasiado habituados como sociedade a ter toda a informação na ponta dos dedos, mas a criatividade ainda precisa da experiência sensorial e mental dos livros;
    • Se trabalhamos em Moda devemos saber sair da bolha e ver o “mundo real”, para que possamos ter total consciencia do impacto do nosso de trabalho;
    • O problema da indústria não está encerrado na própria indústria, mas sim na sociedade, nos hábitos de consumo exagerados e na má distribuição de riqueza; 
    • E a esta conjectura junta-se a hipocrisia, junta-se a pseudo caridade de roupa doada que acaba em aterros infindáveis no Ghana. Como sociedade somos efémeros nas nossas preocupações, pois 12 anos volvidos do desastre do Rhana Plaza focamo-nos somente nas condições de construção das fábricas, mas não nas verdadeiras condições dos garment workers.


Dia 2

Colagem e fotos: autora. Imagens: Diálogo 1 e Diálogo 2, respectivamente.

#Diálogo 01 + #Diálogo 02

Para a Moda dialogar com a Arte não havia melhor lugar do recém re- estruturado Centro de Arte Modera da Fundação Calouste Gulbenkian.

Diogo Mestre dirigiu grande parte do primeiro diálogo, no qual durante cerca de 20 minutos, fomos levados a reflectir sobre: os timings da Arte em contraste com os da Moda, assim como os objectivos de cada actividade.

E se num primeiro momento encontramos mais diferenças do que semelhanças entre Arte e Moda, no segundo momento constatamos o inverso. A abordagens mais próximas entre artistas e criativos juntaram-se à saída da cidade para viver. E ainda que o campo possa ser enriquecedor para inspirar a criação, os espaços de trabalho ainda podem abandonar as capitais… Pelo que o interior  precisa de mais capital, de vários tipos, para se tornar núcleo criador e criativo. 

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Dri Martins (Sangue Novo, FW 25/26). Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.
Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Duarte Jorge (Sangue Novo, FW 25/26). Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.
Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Francisca Nabinho (Sangue Novo, FW 25/26). Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.
Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Gabriel Silva Barros (Sangue Novo, FW 25/26). Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.
Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Ihanny Luquessa (Sangue Novo, FW 25/26). Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.
Colagem e fotos autora. Imagens: Desfile Sangue Novo.

Sangue Novo

Nesta segunda fase do Concurso Sangue Novo testemunhamos evolução e presenciamos crescimento. 

Dri Martins deu continuidade à aliança entre Moda e Tecnologia, por meio da utilização de Corte a Laser e da Impressão 3D. Pondo em prática o preconizado na sua memória descritiva que a sustentabilidade e as boas práticas no seio da Moda são um caminho e não um destino.

A preto, azul  Klein e laivos de branco Duarte Jorge traz volumes, formas orgânicas e grandes escalas numa mestria de construção e modelagem. Num conceito que aborda: o fim da classe média; a luta pela liberdade; a resistência contra a opressão.. Protagonizam esta colecção os rebeldes que emergem da escuridão - os “Anomals”. O que vestem? A materialização da Cyberlight - “2112. Onyx District”. 

De “Vagar” para “Efémera”, Francisca Nabinho deu continuidade às técnicas tradicionais de tecelagens, criando saias estruturadas magnânimas… Mas deixou para trás a doçura vibrante do cor-de-rosa e diminuí as escala dos componentes… Nabinho ensina-nos a lição - precisamos de Vagar para construir a grandiosidade. 

Quem somos depois de nos libertarmos completamente? Quem somos no dia seguinte? Acordamos pra voltar à conformidade do que a sociedade espera de nós… Mas a tensão entre dois mundos persiste, é isso que explora Gabriel Silva Barros. “De Volta ao Mar” dá vida a pescadores de identidade fluída que na noite anterior estavam em “Masquerade at the Gentlemen’s Club” A noite no cabaré que se apresentou opulenta, exuberante e com fluidez de género ainda está presente nas sedas e nos kitten heels, que se misturam com flanela. Materiais que já foram peças e agora se desintegram para terem vida nova.

Pureza e dor, amor que cria ou que pode destruir foram a base sobre a qual Ihanny Luquessa se debruçou . Criando looks totais de branco ou preto em cortes direitos e recorrendo a tipologias “clássicas” e manipulação têxtil . Luquessa leva-nos a repensar a forma como usamos as peças de roupa, desde camisas abotoadas de forma assimétrica a colarinhos num dos ombros, passando por casacos vestidos com as costas para a frente e vice versa. 

Nesta edição, o Prémio ModaLisboa X IED - Istituto Europeo di Design (bolsa e Master’s Degree em Fashion Brand Management) foi para Duarte Jorge. Gabriel Silva Barros venceu o Prémio ModaLisboa X RDD Textiles (estágio na empresa, desenvolvimento de colecção com materiais RDD, alojamento e bolsa). A ModaLisboa e a Showpress concede ainda aos vencedores assessoria de imprensa e showroom por parte da agência de comunicação - Prémio ModaLisboa X Showpress.

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Inês Barreto (Workstation, FW 25/26)- Looks 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9. Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.
Colagem e fotos autora. Imagens: Desfile Inês Barreto.

Inês Barreto 

A vencedora do Prémio ModaLisboa X IED Istituto Europeo di Design da edição do Sangue Novo da ModaLisboa Core (Março 2023) regressou a Lisboa e à passarelle. Esta apresentação na plataforma Workstation forma parte do prémio que recebeu. Prémio esse que teve como protagonista o Master in Fashion Design, no IED Milano, no qual desenvolveu esta colecção. 

Esta é uma chegada à maturidade enquanto designer para Inês Barreto.  Um maior domínio da técnica que já desenvolvia - a produção latex com a utilização de latex líquido, em peças nas quais se percepciona mais ma (termo japonês que se refere ao espaço vazio entre o corpo e a peça de roupa). A que aliam a utilização de tecidos propriamente ditos. 

Como inspiração teve O Livro do Desassossego de Fernando Pessoa, transportando para a colecção a filosofia que cada peça faz parte de um todo maior, mas que não é dependente, mas sim, independente e ao mesmo tempo interdependente. 

“Num mundo que insiste em colocar as pessoas em categorias fixas, a coleção “Desassossego” celebra a multiplicidade do eu, honrando a beleza e a complexidade de existir como uma "orquestra oculta". Não é uma sinfonia com estrutura rígida, mas sim um conjunto ao estilo do jazz, onde cada peça ressoa com texturas, cores e energias únicas, unindo-se numa harmonia espontânea.”

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Mestre Studio (Workstation, FW 25/26)- Looks 4; 5; 6; 7; 8; 9; 10; 12;13;14. Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.
Colagem e fotos autora. Imagens: Desfile Mestre Studio.

Mestre Studio

Diogo Mestre leva os gen Zs a refletir sobre a nossa infância e como nos tornamos adolescentes. As tipologias de peça que usou também contam essa estória das jardineiras de criança. As lantejoulas a formar motivos das ovelhinhas que contávamos quando não tínhamos sono para dormir antes das 10, também não faltaram. Se são da geração 99/2000 talvez não saibam mas tudo podia ter umas lantejoulas aplicadas… mas na ganga era delírio da infância. Para essas crianças os casacos de lã tricotada, como os que pisam a passarelle, “picavam”. Tais crianças deram lugar a jovens adultos que têm nas peças de lã escovada de Mestre Studio um objecto de desejo. 

As cores quentes e frias conjugadas à ganga não são uma estreia para o designer. Mas a adição da acidez do amarelo para nos limpar o palato foi uma verdadeira jogada de Mestre. 

Sem dúvida, este membro da plataforma Workstation é um exemplo magnifico da nova geração da Moda portuguesa: conscientes do empreendedorismo que é preciso desenvolver associado, impreterivelmente, à criatividade, à curiosidade e à experimentação.

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Alves/Gonçalves (Workstation, FW 25/26) - Looks 4; 5; 6; 7; 8; 9; 10; 12;13;14. Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.
Colagem e fotos autora. Imagens: Desfile Alves/ Gonçalves.

Alves/Gonçalves

Assistir a um desfile de Alves/Gonçalves, vultos maiores da Moda portuguesa, por si só já é um acontecimento. Mas a primeira vez que o fazes coincidir com o regresso da marca aos desfiles na Lisboa Fashion Week é emocionante. Sendo, simultaneamente, a primeira colecção revelada após o desaparecimento de Manuel Alves multiplica, sem precedentes, a emotividade do desfile. Assim, neste caso, não falo da colecção, preciso de mais umas décadas de Moda para o poder fazer. Mas a década e (quase) meia que já tenho dentro desta adorada bolha permite-me falar do desfile. Da carta de amor que sentimos pelo ar e a envolver-nos… A partilha de um sentimento comum de nostalgia e melancolia sem tristeza, uma celebração na força dos detalhes vermelhos e dos apontamentos metalizados. 

Um luto de um preto belo, no qual sabemos que iremos vislumbrar luz. Um país que os conhece como os “Manéis”, apesar de Manuel Alves e José  Manuel Gonçalves não gostarem desta alcunha. Uma ModaLisboa Capital que aplaudiu de pé, devolvendo o amor que José Manuel nos deu naquela noite de sexta-feira. 

E, assim Alves/Gonçalves regressaram à Casa Mãe da Moda nacional.

Continua…