ModaLisboa Capital - Dia 3 e 4

ModaLisboa Capital - Dia 3 e 4
Colagem feita pela autora. Imagens: Fotos de backstage das colecções de Dino Alves, DuarteHajime, Luís Carvalho, Arndes, Ricardo Andrez e Kolovrat, respectivamente (FW 25/26). Créditos das imagens: Luís Miguel Fonseca | modalisboa.pt

Se nos tens acompanhado, sabes que o artigo anterior - “ModaLisboa Capital - Dia 1 & 2” terminou com “Continua…”  Portanto vamos falar do fim-de-semana mais cool de Lisboa, um sábado e um Domingo de ModaLisboa. 

Já agora, antes de leres este artigo, dá uma vista de olhos ao “Volume I” da série de newsletters sobre a mais recente edição da Lisboa Fashion Week - “Life is Fashion Week”.

Dia 3

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Carlos Gil (FW 25/26)- Looks 10, 15, 21, 26, 28, 38, 44, 46, 52. Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.
Colagem e fotos: autora. Imagens: Desfile Carlos Gil.

Carlos Gil

Carlos Gil faz “Match” com maximalismo que cria uma fusão com o minimalismo. Como? Na modelagem temos peças clássicas que ganham este efeito max pela sua repetição em diversas cores.

Paletas de cores de coleções juntam-se agora numa só - entre vibração em tons avermelhados  que vão do laranja ao fúcsia, que se podem  designar de Cherry Tomato e  Boudoir Red, à suavidade dos tons pastel acrescem o denim, os estampados luminosos, o amarelo ácido e o amarelo manteiga (o novo hit das redes sociais).

Neste “espelho da individualidade humana” encontramos detalhes que nos remetem para diferentes décadas do século XX - anos 20, 60, 70 ou 80.  E nelas encontramos futuras it bags 

Colagem feita pela autora. Imagens: IED Graduate Fashion Show FW 25/26)- Looks 4 (Adele Domini) 5 (Alexia Sedda), 1 (Gaizka Albizu), 2 (Leonardo Fizialetti), 4 (Letizia Lucchini), 1 (Rat Borrell). Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.

Colagem e fotos: autora. Imagens: IED Graduate Fashion Show.

IED Graduate Fashion Show 

O IED junta alunos finalistas, os “escolhidos”, de Itália e Espanha. De Torino, Cagliari, Bilbau, Roma, Milão e Barcelona aterraram em Lisboa: Adele Domini, Alexia Sedda, Gaizka Albizu, Leonardo Fizialett, Letizia Luchini e Rat Borrell, respectivamente.  

Segundo nos diz a ModaLisboa a respeito de “Nostalgia for The Future”:

“Esta aparente contradição traduz-se num anseio aspiracional por designs e tendências que ainda poderão surgir, e por uma estética que reflita um futuro melhor e mais arrojado. A Moda, como um sistema em constante evolução, torna-se um veículo para a exploração da nostalgia.

Cada coleção é capaz de evocar o seu potencial, propondo silhuetas simultaneamente reconhecíveis e inovadoras, misturando desporto e elegância, loucura e tradição. As peças de vestuário são confeccionadas com materiais mais sustentáveis e apresentam um futuro em que a criatividade e a responsabilidade social estão interligadas.”

Pessoalmente, destaco: as eximias silhuetas em V de Luchini, o espartilhado re- imaginado e unissexo de Albizu, o “colete”em forma X de Domini e, a paleta cromática de Borrell que me remete imediatamente para a capital catalã.

Não esquecendo que como diz Eduarda Abbondanza “todas as roupas são unissexo, é uma questão de confiança”.

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Kolovrat (FW 25/26)- Looks 1,3,9, 15, 18, 21,22, 27, 31 Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.
Colagem e fotos: autora. Imagens: Desfile Kolovrat.

Kolovrat 

Lidja Kolovrat celebra e guia-nos na reflexão sobre a nossa relação com a natureza, somos intrinsecamente parte dela. Como as árvores e as suas raízes. 

Com Kolovrat nunca se trata apenas de uma colecção de um verdadeiro fashion show, não deixando a sua mensagem apenas nas peças de roupa, das quais eventualmente falaremos, mas permitiu o facto de que os manequins personificassem completamente o título da sua colecção F/W “I am the Tree” com a joalharia  facial de Eduarda Novita e maquilhagem que abrange todo o corpo, também por esta vestido… 

Raízes transparecem no queixo ou na testa, enquanto os troncos se vislumbram nos torsos, os dedos dos pés dos manequins poderão levar-nos até aos anéis de crescimento das árvores… que quando são mais escuros dependendo da localização no tronco poderão ser a “medula”, a “cicatriz” de um incêndio ou o crescimento da árvore durante o tempo seco. 

Quando disse que eventualmente falaria das peças apresentadas em “I  am the tree” não usei este advérbio em vão, Quando o conceito é tão forte e alinhado como aquilo que desfila, ser descritiva, torna-se redundante.

Aquando da partilha da sua memória descritiva nas suas redes sociais , Kolovrat partilhou também a seguinte mensagem que nos transmite a essência mais profundo das propostas F/W: 

“ Na Moda, tal como na natureza, o crescimento é um equilíbrio entre o ganhar raízes e a transformação. Evoluímos ao abraçar o movimento sem perdermos a nossa essência. Como árvores numa floresta, mantemo-nos forte na solidão, mas prosperamos juntos - como fios do mesmo tecido, adaptáveis, e em constante mudança.”*

Sendo o mais pertinente, abrir a porta para que outros possam olhar, ver e sentir. Ainda assim, pessoalmente, destacaria os Trompe-l’oeil pintados pela própria designer que levam os naked dress a todo um novo patamar. 

* tradução livre

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Ricardo Andrez (FW 25/26)- Looks 1, 2, 5, 7, 10, 14, 16, 17, 23. Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.

Colagem e fotos: autora. Imagens: Desfile Ricardo Andrez .

Ricardo Andrez

Para esta estação Ricardo Andrez trouxe uma nova  girly vibe (poderia ser descrita como feminilidade , mas esta é uma expressão muito encapsulada, portanto não entra aqui) à sua estética grunge. Deixou para trás as suas famosas ilhóses e, eu confesso que já estou a morrer de saudades delas.

Fronteiras quebradas entre Oeste e Oriente  trazem novos acessórios e materiais como “pêlo sintético, veludo, seda, jacquard de cetim oriental e denims orgânicos para manter tudo equilibrado à assinatura” de Andrez em “Far from The West”.

Apesar de tais materiais permitirem um amplo léxico de silhuetas, silhuetas de linhas rectas e a piscar o olho à Cocoon.

Ainda assim, eu preciso das ilhóses de regresso às colecções de Ricardo Andrez, o mundo já é um lugar demasiado complicado…

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Luís Carvalho (FW 25/26)- Looks 1, 4, 21, 26, 29, 31, 32, 37, 38. Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.

Colagem e fotos: autora. Imagens: Desfile Luís Carvalho.

Luís Carvalho

“RUSH HOUR nasce desse dinamismo. Parte da energia intensa dos ambientes corporativos. Mas chegou a hora da mulher assumir os cargos de destaque. Ela traz fluidez, estrutura e funcionalidade. Ela molda o conceito de "office workwear" e transcende a formalidade. Desconstrói o clássico. E evolui nas silhuetas unissexo.

Ela é CEO, criativa, estratega, musa da sua vida. Tem a suavidade e a força necessárias para navegar no mundo corporativo. “

Quem disse que um cai-cai azul royal elétrico e um vestido verde ácido com racha e um vertiginoso decote tipo gota não é officecore ?  Luís Carvalho  prova que é.

Num momento, em que muitos homens andam de gravatas ao vento, hajam mulheres que subvertam a forma como se usam os fatos.

Dia 4

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Nuno Baltazar (FW 25/26)- Looks 1, 4, 6, 7, 12,17,22, 32,35. Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.

Colagem e fotos autora. Imagens: Desfile Nuno Baltazar.

Nuno Baltazar

Lágrimas, era esse o intervalo entre a pele das manequins  e o exterior, lágrimas de conflito, enquanto algumas modelos tinham escrito nas mãos erguidas sobre o peito despido afirmação de orgulho face ao seu país invadido - “proudly from Ukraine”.

Texturas maximalistas e lágrimas, inquietações do próprio designer, intervalos entre corpo e peça e avessos que se tornam direito…

Balaclavas adornadas  que criam mais uma camada de distração em relação à emoção da personagem que encobrem nesta “Intermission”.

E, exatamente, o número da introspecção e da sorte, também ligado à deusa grega da guerra e da paz- Athena.  é o número do look que me apaixonou - o look 7.

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Bárbara Atanásio (FW 25/26)- Looks 1,4, 6, 7, 8, 9, 10,11,12. Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.

Colagem e fotos; autora. Imagens: Desfile Bárbara Atanásio.

Barbára Atanásio

Bárbara Atanásio apresentou uma colecção menswear para todos os humanos.

Antes de escrever os meus pensamentos sobre as colecção procuro saber qual o conceito do designer (faço-o, por norma consultando modalisboa.pt), quais as intenções da sua mensagem. Sendo consciente que a crítica (não interpretar a palavra com a conotação negativa que não lhe corresponde)/ escrita de Moda não é mera transcrição de memórias descritivas ou de comunicados de imprensa, quero deliberadamente deixar-vos com uma citação de “Profecia do Presente” - o âmago da colecção da jovem designer: 

"Testemunhando a globalização da estupidez, o mundo vive à beira do seu próprio reflexo. Vivemos zangados, deprimidos e medicados. E vivemos felizes, eufóricos e medicados. Adornamo-nos com as ferramentas do nosso próprio alucinamento, afogando-nos no ruído do vasto mar digital. Já não há nada de novo.”

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Arndes (FW 25/26)- Looks 1,2, 4, 5, 6, 7, 8,10,11. Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.

Colagem e fotos: autora. Imagens: Desfile Arndes.

Arndes

Em “Borrowed Clothes”, Ardnes explora uma sagacidade acidental premeditada e dá continuidade a uma modelagem bem construída e que apela aos sentidos. Sendo a própria modelagem parte integrante e consciente do conceito da designer Ana Rita de Sousa: 

“Cada peça é uma construção feita de pontes invisíveis, onde os moldes se conectam por fios de intenção, criando formas que só existem nesse ponto de convergência.”

Numa colecção coesa e concisa, apreciam-se o despertar  dos xadrezes e queremos usar presilhas e alamares desirmanados como segunda pele. Ao mesmo tempo que os tecidos são agentes duplos: material/ matéria da peça vestida e acessório do sujeito vestido.

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Valentim Quaresma (FW 25/26)- Looks 1,4, 5, 6, 7,16,21,23,24 Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.

Colagem e fotos: autora. Imagens: Desfile Valentim Quaresma.

Valentim Quaresma

Valentim Quaresma caracteriza-se pelo abraçar do trabalho artesanal, estabelecendo uma relação singular com cada peça de joalharia que cria. Neste F/W foi mais expressiva a relação entre os acessórios e as peças de roupa propriamente ditas, uma vez que estas últimas estavam manifestamente mais presentes.

Onde também não faltaram o upcycling de flanela axadrezada, desfiada ou com diferentes forma conferindo à colecção apontamentos das três cores primárias e o tricot em estruturas que (nos) abraçam.

Para mim, foi mais assentada, nesta estação, a bonita influência do estética e estilo da mentora de Quaresma, Ana Salazar. 

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de DuarteHajime (FW 25/26)- Looks 2, 6, 7, 9, 12, 16, 21, 27, 34. Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.

Colagem e fotos: autora. Imagens: Desfile DuarteHajime.

DuarteHajime

Com Duarte, actualmente DuarteHajime  temos sempre  um momento de aprendizagem cultural. Desta vez, ainda que não como estreia, o foco foi a cultura japonesa, ou mais precisamente, sobre os samurais

Como o que nos foi apresentado a 9 de Março Kaeru, expressão que pode ser interpretada como regresso a casa. O storytelling é uma valiosa e permanente característica da marca que exalta a experiência de desfile. Só que aqui tudo começou mesmo antes do desfile começar com os QR codes nos ecrãs da passerelle que nos direcionavam à introdução de tudo.

O ADN da marca reinventou-se e remisturou- se em códigos e símbolos que vão desde os estampados às malhas vibrantes, passando pela substituição das costuras por cordões na união de diferentes componentes de uma peça. Deixando à beira da obsessão relativamente a uma armadura levemente acolchoada e amplamente pespontada.

Colagem feita pela autora. Imagens: Colecção de Dino Alves (FW 25/26)- Looks 2, 7, 11, 13, 14, 16, 25, 30, 48. Créditos das imagens: Ugo Camera | modalisboa.pt.

Colagem e fotos autora. Imagens: Desfile Dino Alves.

Dino Alves

Dino Alves sempre foi um “fora de série”, mas desta feita este foi o título da sua colecção. Trata-se de inspirar quem não se conforma e quem transforma desafios em aprendizagem… E, para enfant terrible da Moda portuguesa, como chegou a ser descrito por alguns media nos anos 2000, este conceito com inspirações em movimentos artísticos como o Brutalismo e o Expressionismo numa festa. 

Este foi um desfile eletrizante, em que danças e que todo o teu corpo age em função de que o teu olhar não se desvie da manequim e do seu look.

Dino traz—nos acolchoados e tules transparentes em camadas deliciosas, traz-nos sobreposições de peças como imaculadas  camisas sobrepostas a golas altas que são inquestionáveis objectos de desejo, enquanto consumidores responsáveis, claro está.

Partilhei convosco pensamentos e perspectivas sobre os desfiles aos quais assisti e, respectivas colecções, à excepção  à apresentação de Luís Onofre. Apesar de ter assistindo ao desfile 

Ainda assim, no The Fashion Standup ainda estamos longe de estar tudo dito sobre a ModaLisboa Capital. O “volume IV” desta série não será publicado para já…

O que virá para a semana? Isso ainda é segredo!

Até lá!

Com amor,

Vera Lúcia