ModaLisboa Capital - Dia 3 e 4

Se nos tens acompanhado, sabes que o artigo anterior - “ModaLisboa Capital - Dia 1 & 2” terminou com “Continua…” Portanto vamos falar do fim-de-semana mais cool de Lisboa, um sábado e um Domingo de ModaLisboa.
Já agora, antes de leres este artigo, dá uma vista de olhos ao “Volume I” da série de newsletters sobre a mais recente edição da Lisboa Fashion Week - “Life is Fashion Week”.
Dia 3


Carlos Gil
Carlos Gil faz “Match” com maximalismo que cria uma fusão com o minimalismo. Como? Na modelagem temos peças clássicas que ganham este efeito max pela sua repetição em diversas cores.
Paletas de cores de coleções juntam-se agora numa só - entre vibração em tons avermelhados que vão do laranja ao fúcsia, que se podem designar de Cherry Tomato e Boudoir Red, à suavidade dos tons pastel acrescem o denim, os estampados luminosos, o amarelo ácido e o amarelo manteiga (o novo hit das redes sociais).
Neste “espelho da individualidade humana” encontramos detalhes que nos remetem para diferentes décadas do século XX - anos 20, 60, 70 ou 80. E nelas encontramos futuras it bags


IED Graduate Fashion Show
O IED junta alunos finalistas, os “escolhidos”, de Itália e Espanha. De Torino, Cagliari, Bilbau, Roma, Milão e Barcelona aterraram em Lisboa: Adele Domini, Alexia Sedda, Gaizka Albizu, Leonardo Fizialett, Letizia Luchini e Rat Borrell, respectivamente.
Segundo nos diz a ModaLisboa a respeito de “Nostalgia for The Future”:
“Esta aparente contradição traduz-se num anseio aspiracional por designs e tendências que ainda poderão surgir, e por uma estética que reflita um futuro melhor e mais arrojado. A Moda, como um sistema em constante evolução, torna-se um veículo para a exploração da nostalgia.
Cada coleção é capaz de evocar o seu potencial, propondo silhuetas simultaneamente reconhecíveis e inovadoras, misturando desporto e elegância, loucura e tradição. As peças de vestuário são confeccionadas com materiais mais sustentáveis e apresentam um futuro em que a criatividade e a responsabilidade social estão interligadas.”
Pessoalmente, destaco: as eximias silhuetas em V de Luchini, o espartilhado re- imaginado e unissexo de Albizu, o “colete”em forma X de Domini e, a paleta cromática de Borrell que me remete imediatamente para a capital catalã.
Não esquecendo que como diz Eduarda Abbondanza “todas as roupas são unissexo, é uma questão de confiança”.


Kolovrat
Lidja Kolovrat celebra e guia-nos na reflexão sobre a nossa relação com a natureza, somos intrinsecamente parte dela. Como as árvores e as suas raízes.
Com Kolovrat nunca se trata apenas de uma colecção de um verdadeiro fashion show, não deixando a sua mensagem apenas nas peças de roupa, das quais eventualmente falaremos, mas permitiu o facto de que os manequins personificassem completamente o título da sua colecção F/W “I am the Tree” com a joalharia facial de Eduarda Novita e maquilhagem que abrange todo o corpo, também por esta vestido…
Raízes transparecem no queixo ou na testa, enquanto os troncos se vislumbram nos torsos, os dedos dos pés dos manequins poderão levar-nos até aos anéis de crescimento das árvores… que quando são mais escuros dependendo da localização no tronco poderão ser a “medula”, a “cicatriz” de um incêndio ou o crescimento da árvore durante o tempo seco.
Quando disse que eventualmente falaria das peças apresentadas em “I am the tree” não usei este advérbio em vão, Quando o conceito é tão forte e alinhado como aquilo que desfila, ser descritiva, torna-se redundante.
Aquando da partilha da sua memória descritiva nas suas redes sociais , Kolovrat partilhou também a seguinte mensagem que nos transmite a essência mais profundo das propostas F/W:
“ Na Moda, tal como na natureza, o crescimento é um equilíbrio entre o ganhar raízes e a transformação. Evoluímos ao abraçar o movimento sem perdermos a nossa essência. Como árvores numa floresta, mantemo-nos forte na solidão, mas prosperamos juntos - como fios do mesmo tecido, adaptáveis, e em constante mudança.”*
Sendo o mais pertinente, abrir a porta para que outros possam olhar, ver e sentir. Ainda assim, pessoalmente, destacaria os Trompe-l’oeil pintados pela própria designer que levam os naked dress a todo um novo patamar.
* tradução livre


Ricardo Andrez
Para esta estação Ricardo Andrez trouxe uma nova girly vibe (poderia ser descrita como feminilidade , mas esta é uma expressão muito encapsulada, portanto não entra aqui) à sua estética grunge. Deixou para trás as suas famosas ilhóses e, eu confesso que já estou a morrer de saudades delas.
Fronteiras quebradas entre Oeste e Oriente trazem novos acessórios e materiais como “pêlo sintético, veludo, seda, jacquard de cetim oriental e denims orgânicos para manter tudo equilibrado à assinatura” de Andrez em “Far from The West”.
Apesar de tais materiais permitirem um amplo léxico de silhuetas, silhuetas de linhas rectas e a piscar o olho à Cocoon.
Ainda assim, eu preciso das ilhóses de regresso às colecções de Ricardo Andrez, o mundo já é um lugar demasiado complicado…


Luís Carvalho
“RUSH HOUR nasce desse dinamismo. Parte da energia intensa dos ambientes corporativos. Mas chegou a hora da mulher assumir os cargos de destaque. Ela traz fluidez, estrutura e funcionalidade. Ela molda o conceito de "office workwear" e transcende a formalidade. Desconstrói o clássico. E evolui nas silhuetas unissexo.
Ela é CEO, criativa, estratega, musa da sua vida. Tem a suavidade e a força necessárias para navegar no mundo corporativo. “
Quem disse que um cai-cai azul royal elétrico e um vestido verde ácido com racha e um vertiginoso decote tipo gota não é officecore ? Luís Carvalho prova que é.
Num momento, em que muitos homens andam de gravatas ao vento, hajam mulheres que subvertam a forma como se usam os fatos.
Dia 4


Nuno Baltazar
Lágrimas, era esse o intervalo entre a pele das manequins e o exterior, lágrimas de conflito, enquanto algumas modelos tinham escrito nas mãos erguidas sobre o peito despido afirmação de orgulho face ao seu país invadido - “proudly from Ukraine”.
Texturas maximalistas e lágrimas, inquietações do próprio designer, intervalos entre corpo e peça e avessos que se tornam direito…
Balaclavas adornadas que criam mais uma camada de distração em relação à emoção da personagem que encobrem nesta “Intermission”.
E, exatamente, o número da introspecção e da sorte, também ligado à deusa grega da guerra e da paz- Athena. é o número do look que me apaixonou - o look 7.


Barbára Atanásio
Bárbara Atanásio apresentou uma colecção menswear para todos os humanos.
Antes de escrever os meus pensamentos sobre as colecção procuro saber qual o conceito do designer (faço-o, por norma consultando modalisboa.pt), quais as intenções da sua mensagem. Sendo consciente que a crítica (não interpretar a palavra com a conotação negativa que não lhe corresponde)/ escrita de Moda não é mera transcrição de memórias descritivas ou de comunicados de imprensa, quero deliberadamente deixar-vos com uma citação de “Profecia do Presente” - o âmago da colecção da jovem designer:
"Testemunhando a globalização da estupidez, o mundo vive à beira do seu próprio reflexo. Vivemos zangados, deprimidos e medicados. E vivemos felizes, eufóricos e medicados. Adornamo-nos com as ferramentas do nosso próprio alucinamento, afogando-nos no ruído do vasto mar digital. Já não há nada de novo.”


Arndes
Em “Borrowed Clothes”, Ardnes explora uma sagacidade acidental premeditada e dá continuidade a uma modelagem bem construída e que apela aos sentidos. Sendo a própria modelagem parte integrante e consciente do conceito da designer Ana Rita de Sousa:
“Cada peça é uma construção feita de pontes invisíveis, onde os moldes se conectam por fios de intenção, criando formas que só existem nesse ponto de convergência.”
Numa colecção coesa e concisa, apreciam-se o despertar dos xadrezes e queremos usar presilhas e alamares desirmanados como segunda pele. Ao mesmo tempo que os tecidos são agentes duplos: material/ matéria da peça vestida e acessório do sujeito vestido.


Valentim Quaresma
Valentim Quaresma caracteriza-se pelo abraçar do trabalho artesanal, estabelecendo uma relação singular com cada peça de joalharia que cria. Neste F/W foi mais expressiva a relação entre os acessórios e as peças de roupa propriamente ditas, uma vez que estas últimas estavam manifestamente mais presentes.
Onde também não faltaram o upcycling de flanela axadrezada, desfiada ou com diferentes forma conferindo à colecção apontamentos das três cores primárias e o tricot em estruturas que (nos) abraçam.
Para mim, foi mais assentada, nesta estação, a bonita influência do estética e estilo da mentora de Quaresma, Ana Salazar.


DuarteHajime
Com Duarte, actualmente DuarteHajime temos sempre um momento de aprendizagem cultural. Desta vez, ainda que não como estreia, o foco foi a cultura japonesa, ou mais precisamente, sobre os samurais
Como o que nos foi apresentado a 9 de Março Kaeru, expressão que pode ser interpretada como regresso a casa. O storytelling é uma valiosa e permanente característica da marca que exalta a experiência de desfile. Só que aqui tudo começou mesmo antes do desfile começar com os QR codes nos ecrãs da passerelle que nos direcionavam à introdução de tudo.
O ADN da marca reinventou-se e remisturou- se em códigos e símbolos que vão desde os estampados às malhas vibrantes, passando pela substituição das costuras por cordões na união de diferentes componentes de uma peça. Deixando à beira da obsessão relativamente a uma armadura levemente acolchoada e amplamente pespontada.


Dino Alves
Dino Alves sempre foi um “fora de série”, mas desta feita este foi o título da sua colecção. Trata-se de inspirar quem não se conforma e quem transforma desafios em aprendizagem… E, para enfant terrible da Moda portuguesa, como chegou a ser descrito por alguns media nos anos 2000, este conceito com inspirações em movimentos artísticos como o Brutalismo e o Expressionismo numa festa.
Este foi um desfile eletrizante, em que danças e que todo o teu corpo age em função de que o teu olhar não se desvie da manequim e do seu look.
Dino traz—nos acolchoados e tules transparentes em camadas deliciosas, traz-nos sobreposições de peças como imaculadas camisas sobrepostas a golas altas que são inquestionáveis objectos de desejo, enquanto consumidores responsáveis, claro está.
Partilhei convosco pensamentos e perspectivas sobre os desfiles aos quais assisti e, respectivas colecções, à excepção à apresentação de Luís Onofre. Apesar de ter assistindo ao desfile
Ainda assim, no The Fashion Standup ainda estamos longe de estar tudo dito sobre a ModaLisboa Capital. O “volume IV” desta série não será publicado para já…
O que virá para a semana? Isso ainda é segredo!
Até lá!
Com amor,
Vera Lúcia