Zoë Akihary - Uma rapariga tímida e generosa, uma guru de “Art Direction”

Há umas semanas ou no ano passado, se preferirem, começámos uma série de ensaios artigos sobre a comunidade do The Fashion Standup. A convidada desta semana é Zoë Akihary, directora artística e fundadora da newsletter "Art Direction". Quando o TFS começou a ser publicado no Substack, a Zoë e o seu trabalho rapidamente se tornaram uma enorme inspiração para mim.
Apesar de ser bestseller no Substack, onde o reconhecimento de um criador de conteúdo cresce ao atingirem as centenas de subscritores pagos, o perfil da Zoë, que conta agora com um total de 14 000 subscritores, permitiu relacionar-nos rapidamente e subscrever a newsletter uma da outra.
O nosso encontro digital aconteceu naturalmente e, entre os fuso horários do Meridiano de Greenwich e o da Europa Central, demos por nós numa chamada de Zoom: a maior sala de reuniões do mundo.

Numa conversa descontraída, a Zoë e eu partilhamos as nossas perspectivas, não apenas sobre Moda, mas também sobre o "navegar" do início da vida adulta e a descoberta dos nossos caminhos criativos num mundo a mudar freneticamente.
A Zoë conta-nos que, no início da sua carreira, nem sempre trabalhava nos projectos mais interessantes. Como a própria afirma nem todos são suficientemente representativos dos seus valores para que os inclua no seu portfólio, em especial no concerne aos primeiros tempos. Foi essa luta interior para explorar a sua criatividade que, cedo, a levou a tornar-se freelancer.
Apesar de ter estudado Moda e Branding, Zoë deu por si no mundo da publicidade, a trabalhar com marcas nada inspiradoras. O que abriu caminho a que criasse a sua primeira newsletter de substack. Hoje, as suas newsletter "Art Direction" e "Curation Club" partilham valiosos conhecimentos relativos às indústrias da Criatividade e da Moda, com foco na Direcção de Arte e em artigos educacionais sobre marcas de Luxo e de Streetwear. O seu objectivo é ajudar os seus a descobrirem o estilo pessoal de Direcção Artística e a desenvolver as suas visões criativas.

Reflectindo sobre como tudo começou, Zoë relembra a menina de 11 aos que começou um blog no Blogspot para escrever opiniões sobre as colecções de marcas de renome. Naquela altura, não se considerava escritora, já que sempre fora mais apaixonada por visuals. No entanto, uma década depois, Zoë regressa à escrita através da sua newsletter. O Substack relevou ser a plataforma perfeita para retomar o expressão dos seus pensamentos de uma forma livre e despreocupada, num momento em que o Blogspot desvaneceu e o Tumblr se tornou menos relevante.
Durante vários meses partilhou as ideias apenas com uma ou duas centenas de seguidores, mas tinha tantas ideias, que a velocidade a que a sua audiência crescia não era uma preocupação.
Hoje, Zoë sabe que o crescimento numa plataforma como o Substack leva tempo e tem como requisito prévio a autenticidade. Tem orgulho no intenso engagement que recebe da sua audiência - os posts que publica têm com frequência mais likes e comentários do que os de publicações bem conhecidas com a 1 Granary.
Não existe nenhuma receita secreta para conciliar a criação de conteúdo de alta qualidade com o seu trabalho de freelancer. Zoë usa os tempos livres para planear newsletters e fazer os rascunhos antecipadamente, facilitando a tarefa de equilibrar a criação de conteúdo com os demais projectos criativos e campanhas in loco.

Relativamente à relação com os seus subscritores, Zoë diz que sente que conhece muito deles pessoalmente, ainda que nunca se tenham encontrando no "mundo real". A criativa acredita numa abordagem equilibrada, assim procura manter a balança equilibrada entre a partilha de informação e de experiências pessoais, conferindo à sua escrita uma dimensão humana tão necessária. Assim como equilibra a oferta de conteúdo com a promoção dos benefícios de uma subscrição premium.
A dedicação de Zoë àquilo que cria é evidente, no entanto desconhece a situação financeira dos seus leitores. Como a própria diz, não pode impor uma subscrição paga a ninguém, pelo que se esforça por garantir a continuidade de uma oferta equilibrada tanto para subscrições gratuitas como como pagas.
Apesar do seu percurso na blogosfera ter tido um inicio espontâneo, a minha interlocutora tem metas claras para o futuro. Está dedicada à mentoria da sua comunidade digital e ambiciona fazê-lo a tempo inteiro. A longo prazo, o seu objectivo primeiro é trabalhar de forma mais selectiva em projectos que a apaixonem e menos em trabalhos comerciais, focando-se em projectos que lhe ofereçam mais liberdade criativa e lhe permitam colaborar com clientes que respeita verdadeiramente.

No que toca à confiança que tem para ensinar e aconselhar a sua audiência, Zoë explica que é algo que foi adquirindo com o progride da sua carreira. Muitas vezes, ao ser-lhe confiado o controle total de campanhas, fortaleceu a confiança na sua sabedoria criativa. Tendo sido muito importante a consciencialização de que não existe uma forma única de fazer as coisas. Cada criativo e cada marca tem a própria abordagem, e saber que não existe um método "certo" ou "errado" dá-lhe imensa liberdade. Tendo muito gosto na mentoria de outros, sendo tímida, sente-se mais confortável dar feedbacks escritos do que a fazê-lo em sessões ou vídeo chamadas de grupo.
Zoë estudou Moda e Branding em Amesterdão, onde teve uma formação diversificada desde investigação a gestão, passando por costura/confecção e criação de imagem. Pelo que percebeu cedo a paixão que tinha elo trabalho visual, assim o seu interesse por Direcção Artística começou a crescer. Depois de estagiar na Tommy Hilfiger e de descobrir o que eram agências criativas, percebeu as vastas possibilidades que a indústria tinha para oferecer, começando a questionar os percursos convencionais dentro da própria Moda.
Esta curiosidade deu origem à busca por outras oportunidades e estágios, acabando por aterrar em Londres e num cargo de estratégia criativa. Infelizmente, a pandemia levou Zoë a deixar o trabalho em part-time e o alojamento estudantil, o que deu lugar a um semestre escolar vazio. Ainda assim, preencheu o tempo candidatando-se a projectos através do "The Dots" e acabando por formar uma parceria criativa com o namorado e tornaram-se uma "Junior Creative Team", o seu primeiro trabalho foi para a Tommy Hilfiger, um ponto viragem na carreira de ambos.

Na nossa conversa houve ainda espaço para temas como a Inteligência Artificial na Moda, o jogo das cadeiras dos directores criativos e, a evolução do panorama das profissões/funções criativas. Zoë falou-me das suas percepções em relação: a como a IA pode ser uma ferramenta útil quando usada com moderação, à necessidade que os directores criativos têm de construir a linguagem visual de uma marca ao longo do tempo e, como o entendimento profundo de uma colecção pode ser influenciado por análises tanto visuais como escritas. Enfatizou ainda que a Direcção Artística pode ser, a seu ver, destino para qualquer mente criativa independentemente do background.
No final do nosso encontro, falamos de como apesar de adultas ainda mantemos algo da nossa infância - o nosso lado brincalhão. Relembramos cozy games como Os Sims, jogos estes que sempre foram uma forma de exploração estética e criativa, mesmo na idade adulta.
Foi um prazer encontrar-me com a Zoë e ficar a par do seu processo criativo. Estou muito contente por partilhar esta conversa convosco - subscrevam The Fashion Standup para ficarem a conhecer mais membros inspiradores da nossa comunidade e registem-se como leitores de Art Direction e de Curation Curation Club para saberem mais sobre esta verdadeira guru de art direction.
Até para a semana!
Com amor,
Vera